O cantinho da Cinderela

O cantinho encantado da bloggosfera.

quinta-feira, novembro 25, 2004

Sentimento oculto

A noite estava fria. Tal como qualquer outra noite de Inverno. Deitada no sofá, percorri todos os canais da televisão, na esperança de encontrar algo de interessante para ver enquanto o sono não chegava. E que tortura me estava a causar...! O sono teimava em não aparecer, na televisão não passava nada de jeito e o corpo começava a ficar dorido de tantas voltas.
Fui-me deitar. Podia ser que adormecesse. De repente, senti um arrepio de frio, mas de pouca duração. Senti o teu braço envolver-me e chegar-me para junto de ti, de modo a nos aquecermos os dois. Estávamos tão juntos que pude sentir as batidas do teu coração a acelerarem. Não eras o único. Também as minhas começavam a aumentar de intensidade. Voltei-me, e vi que estavas acordado. Olhei-te nos olhos, sorri-te e dei-te o melhor beijo que alguma vez tinhamos dado. Quando abri os olhos, reparei que estava sozinha. Tinha adormecido e tudo não tinha passado de um sonho.
Dias passaram. Quando te voltei a ver, algo de estranho se passou. Os nossos olhares estavam diferentes e havia qualquer coisa que nos afectava aos dois. Dirigi-me a ti e perguntei-te o que se passava. Disseste-me que não sabias, mas que, de repente, te tinhas lembrado de um sonho que haveras tido à pouco tempo. Tinhas sonhado comigo. Ainda um pouco incrédula, contei-te que também tinha sonhado contigo, e na mesma noite. Olhámo-nos nos olhos e, então, percebemos. O que andavamos a evitar na realidade tinha acontecido nos nossos sonhos. Tínhamo-nos encontrado e aberto o coração um do outro, dando asas ao amor que ambos sentíamos.
Não quis acreditar e fugi. Precisava de estar sozinha, de pensar no que se estava a passar e perceber, realmente, o que sentia. Sentei-me numa rocha à beira-mar e fiquei a ver o pôr-do-sol, tentando encontrar a paz interior de que tanto precisava. Pressenti alguém aproximar-se e, então, ouvi a tua voz.
"-Precisamos de conversar."- disseste-me. A tua voz quente, calma e sensual fez com que ficasse ainda mais alterada, nervosa. Levantei-me e, começando a caminhar ao longo da praia, respondi-te num tom seco e amargo: "-Não temos nada para falar."
Não ficaste satisfeito e não me deixaste avançar mais. Agarraste-me no braço e, sem me magoar (seria a última coisa que querias), obrigaste-me a encarar-te de frente. Pediste-me para te olhar nos olhos, mas eu, decidida a apagar tudo o que sentia por ti, recusei. Sabia que, se o fizesse, não me iria aguentar. Seguraste-me no rosto e pediste-me para não negar os meus sentimentos. Tentei manter-me calma, mas a cada palavra que proferias, a vontade de te agarrar, de percorrer o teu corpo aumentava a passos largos. Irritada comigo mesma, libertei-me violentamente de ti e, voltando-me novamente para o mar, pedi-te para me esqueceres.
Deste-me um "não" redondo, continuando dizendo que podias fazer muitas coisas, conhecer muita gente, mas nunca irias ser capaz de me esquecer. Fechei os olhos e pedi, a mim mesma, forças para conseguir superar aquela situação. Avançaste para junto de mim e abraçaste-me por trás. Foi o princípio do fim. Do fim de toda aquela situação e de toda a negação que tinha imposto a mim própria. Sentir os nossos corpos juntos... Sentir o calor do teu corpo... Sentir os teus braços fortes a abraçarem-me firmemente deitou tudo por terra. O coração começou a acelerar, a mente deixou de conseguir raciocinar e eu... bom, eu rendi-me às evidências. Voltei-me para ti e olhei-te nos olhos. Preparei-me para te pedir desculpas, mas tu não deixaste. Fizeste sinal para eu não dizer nada, puseste o teu melhor sorriso e juntaste os teus lábios aos meus.

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quarta-feira, novembro 17, 2004

A criança

Uma jovem rapariga caminhava junto ao Tejo. Observava o rio e pensava na sua (ainda curta) vida. Sorriu ao lembrar-se de grandes momentos de felicidade que teve, mas logo se desvaneceu toda a alegria. Tinha-se lembrado, também, de alguns momentos maus que tinha passado. Parou. Olhou o rio e voltou a contemplá-lo, como se fosse a última vez que o iria ver.
Nisto, sentiu alguém agarrar-lhe na mão. Olhou e viu uma criança.
"-Olá!"- disse a pequena.
A jovem sorriu e respondeu-lhe:
"-Olá!"
"-'Tás triste? Aqui não se pode 'tar triste."
Soltando uma pequena gargalhada, a jovem perguntou:
"-Não?! Mas então porque não? Nunca tinha ouvido tal coisa!"- e sentou-se num banco.
Muito senhora do seu nariz, a criança respondeu:
"-Dah! Porque o rio não deixa! Mas diz-me, porque é que 'tás assim?"- e sentou-se junto da jovem.
Desviando o olhar, a rapariga disse-lhe:
"-Não ligues. Estava só a recordar a minha vida e lembrei-me de alguns momentos menos bons, só isso."
A criança olhou o Tejo e, encolhendo os ombros, disse:
"-Pois a mim pareceu-me outra coisa."
A jovem virou-se para a criança, mas nem teve tempo de lhe perguntar nada, uma vez que esta continuou:
"-Pareceu-me que sentias o teu coração vazio."
Foi então que a jovem se deu conta da dura realidade. Sentia, de facto, um grande vazio no coração. Sentia que lhe tinham roubado a alma. Mas não falou. Limitou-se a baixar o olhar. Ao ver tal gesto, a criança levantou-se, segurou-lhe o rosto nas mãos, olhou-a nos olhos e disse suavemente:
"-Para recuperares toda a tua felicidade e alegria, só tens de fazer uma coisa: encher o teu coração de amor. Não precisa de ser um amor tipo... paixão, basta ser com um tipo de amor geral: amor à vida, aos animais, às plantas, enfim, amor a tudo o que te rodeia."
Ao ouvir tais palavras, a jovem sorriu. Sorriu como nunca tinha sorrido na vida. Dando-lhe um beijo na face, a criança despediu-se dizendo:
"-Bom... Vou-me embora. Parece que o meu trabalho aqui já acabou."- e desatou a correr.
A jovem estranhou a resposta, mas quando se virou para lhe perguntar porque dizia aquilo, não mais viu a criança. Perguntou a quem estava por perto se a tinham visto, mas todos lhe disseram que não. Ao olhar para cima, avistou, então, uma pomba branca, que voava docemente em direcção aos céus. Sorriu. E prometeu encher de amor tantos corações quantos conseguisse. Tal como aquela criança tinha enchido o dela.

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quinta-feira, novembro 11, 2004

A cadeira de baloiço

(Visto que a história que aqui vos deixei no dia de Halloween fez sucesso, deixo-vos outra que espero que tenha a mesma sorte.)

Um casal de namorados vinha de regresso das suas férias na montanha. Mas eis que, depois de vários quilómetros percorridos, o impensável acontece. O carro onde seguiam, pura e simplesmente, pára. O rapaz dá à chave, mas o veículo nem dá sinais de vida. Ele sai do carro e resolve ir ver se conseguia fazer alguma coisa, mas a escuridão da noite não deixou.
"-E agora?"-perguntou ela-"Como é que vamos sair daqui? A vila mais próxima ainda fica a uns bons quilómetros."
"-Temos de chamar um reboque. Só assim conseguiremos chegar a uma oficina."-respondeu ele.
Começando a ficar apavorada com a possibilidade de pernoitar ali, ela respondeu:
"Tás doido?! E onde é que vais arranjar um reboque a estas horas?! Deves pensar que as pessoas aqui não dormem!"
Ele abanou a cabeça, como que a dar-lhe razão, e começou a andar em volta do carro, pensando numa maneira de resolver a situação.
Completamente rendido às evidências, ergueu a cabeça e reparou numa fraca luz que se avistava ao fundo de um caminho de terra batida que se encontrava um pouco mais à frente do sítio onde estavam.
"-Podia pedir dormida ali e amanhã, então, chamaria um reboque."-pensou.
Fecharam o carro e dirigiram-se à dita casa. Ao chegarem lá, repararam que se tratava de uma casa modesta e que tinha uma cadeira de baloiço no alpendre. Bateram à porta.
Do lado de dentro ouviram um ladrar forte e uma voz suave a mandar sossegar o animal. A porta abriu-se. E apareceu-lhes uma senhora de idade bem avançada (aí uns 70, 80 anos) que lhes perguntou o que queriam.
"-Minha senhora, desculpe, mas será que nos poderia arranjar dormida para esta noite? É que tivemos uma avaria no carro e... sabe como é... já é tarde..."- disse o rapaz.
Sem sequer o deixar acabar, a dita senhora pôs um lindo sorriso e disse-lhes que sim e que, se quisessem até podiam tomar o pequeno-almoço lá. O casal entrou, acomodou-se e comentou, entre eles, o estranho facto de a velhota se ter ido deitar de lenço ao pescoço. Dormiram.
A primeira a acordar foi a rapariga e, quando se dirigia para a casa-de-banho, passou pela cozinha e reparou que a senhora já lá se encontrava a tratar do pequeno-almoço. Mas o que a aterrorizou mais foi ter reparado que esta tinha duas marcas de cada lado do pescoço, facto que não tinha visto antes devido ao lenço. Contou ao namorado e foram comer, tentando parecer calmos. Findo o repasto, o rapaz foi ao alpendre e chamou um reboque.
Perguntaram à velhota quanto era a despesa, mas ela apenas lhes disse que, só pelo facto de lhe terem feito companhia, podiam considerar a dívida paga. Arrumaram as coisas e dirigiram-se para junto da viatura. Pouco tempo depois apareceu o reboque que os haveria de levar à oficina mais próxima. Lá chegados, o rapaz comentou com o mecânico que, se não tivesse sido a tal senhora idosa, teriam passado a noite dentro do carro. O mecânico ergueu-se e ficou petrificado. Ainda meio pálido explicou-lhe que tal era impossível, uma vez que aquela casa tinha sido deixada ao abandono desde de que a sua moradora havera sido assassinada por asfixia pelo seu próprio cão. O rapaz nem queria acreditar. Já com o veículo arranjado e, novamente de regresso, quiseram voltar à tal casa e ver com os seus próprios olhos se era verdade. Ao lá chegarem gelou-se-lhes o sangue. Da casa, a única coisa que restava era a cadeira de baloiço que estava no alpendre. Tudo o resto tinha ruído.

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quinta-feira, novembro 04, 2004

Angel

Hoje, por falta de inspiração, deixo-vos a letra de uma música da Sarah McLachlan que eu gosto de ouvir sempre que preciso de relaxar. Espero que também gostem, até porque é uma letra magnífica.



"Angel"

Spend all your time waiting
For that second chance
For a break that would make it ok
There's always some reason
To feel not good enough
And it's hard at the end of the day
I need some distraction
Oh beautiful release
Memories seep from my veins
Let me be empty and weightless
And maybe I'll find some peace tonight

In the arms of the angel
Far away from here
From this dark cold hotel room
And the endlessness that you fear
You are pulled from the wreckage
Of your silent reverie
You're in the arms of the angel
May you find some comfort here

So tired of the straight line
And everywhere you turn
There's vultures and thieves at your back
And the storm keeps on twisting
You keep on building the lies
That you make up for all that you lack
It don't make no difference
Escaping one last time
It's easier to believe in this sweet madness
Oh this glorious sadness that brings me to my knees

In the arms of the angel
Far away from here
From this dark cold hotel room
And the endlessness that you fear
You are pulled from the wreckage
Of your silent reverie
You're in the arms of the angel
May you find some comfort here

You're in the arms of the angel
May you find some comfort here

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