O cantinho da Cinderela

O cantinho encantado da bloggosfera.

quarta-feira, novembro 17, 2004

A criança

Uma jovem rapariga caminhava junto ao Tejo. Observava o rio e pensava na sua (ainda curta) vida. Sorriu ao lembrar-se de grandes momentos de felicidade que teve, mas logo se desvaneceu toda a alegria. Tinha-se lembrado, também, de alguns momentos maus que tinha passado. Parou. Olhou o rio e voltou a contemplá-lo, como se fosse a última vez que o iria ver.
Nisto, sentiu alguém agarrar-lhe na mão. Olhou e viu uma criança.
"-Olá!"- disse a pequena.
A jovem sorriu e respondeu-lhe:
"-Olá!"
"-'Tás triste? Aqui não se pode 'tar triste."
Soltando uma pequena gargalhada, a jovem perguntou:
"-Não?! Mas então porque não? Nunca tinha ouvido tal coisa!"- e sentou-se num banco.
Muito senhora do seu nariz, a criança respondeu:
"-Dah! Porque o rio não deixa! Mas diz-me, porque é que 'tás assim?"- e sentou-se junto da jovem.
Desviando o olhar, a rapariga disse-lhe:
"-Não ligues. Estava só a recordar a minha vida e lembrei-me de alguns momentos menos bons, só isso."
A criança olhou o Tejo e, encolhendo os ombros, disse:
"-Pois a mim pareceu-me outra coisa."
A jovem virou-se para a criança, mas nem teve tempo de lhe perguntar nada, uma vez que esta continuou:
"-Pareceu-me que sentias o teu coração vazio."
Foi então que a jovem se deu conta da dura realidade. Sentia, de facto, um grande vazio no coração. Sentia que lhe tinham roubado a alma. Mas não falou. Limitou-se a baixar o olhar. Ao ver tal gesto, a criança levantou-se, segurou-lhe o rosto nas mãos, olhou-a nos olhos e disse suavemente:
"-Para recuperares toda a tua felicidade e alegria, só tens de fazer uma coisa: encher o teu coração de amor. Não precisa de ser um amor tipo... paixão, basta ser com um tipo de amor geral: amor à vida, aos animais, às plantas, enfim, amor a tudo o que te rodeia."
Ao ouvir tais palavras, a jovem sorriu. Sorriu como nunca tinha sorrido na vida. Dando-lhe um beijo na face, a criança despediu-se dizendo:
"-Bom... Vou-me embora. Parece que o meu trabalho aqui já acabou."- e desatou a correr.
A jovem estranhou a resposta, mas quando se virou para lhe perguntar porque dizia aquilo, não mais viu a criança. Perguntou a quem estava por perto se a tinham visto, mas todos lhe disseram que não. Ao olhar para cima, avistou, então, uma pomba branca, que voava docemente em direcção aos céus. Sorriu. E prometeu encher de amor tantos corações quantos conseguisse. Tal como aquela criança tinha enchido o dela.

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